terça-feira, 14 de abril de 2009

Mulheres paraquedistas

Em queda livre, despencando de uma altura de 14 mil pés, um grupo feminino de paraquedistas exercita autocontrole, confiança e companheirismo. Tudo com muuuuuito prazer



A expressão “caiu de paraquedas” para designar gente distraída e desavisada é muito injusta. Afinal, não há nada mais preciso, consciente e corajoso do que saltar de um avião em movimento, a uma altura de mais de 4 quilômetros, o equivalente a quase duas vezes o pico das Agulhas Negras (RJ). É o que se nota quando 30 mulheres se reúnem no Centro Brasileiro de Paraquedismo de Boituva (SP), dando uma trégua aos afazeres em terra, para praticar um esporte radical no céu. Elas têm entre 20 e 50 anos, profissões variadas e vêm de vários pontos do Brasil. Além de saltar, o desafio das esportistas consiste em for mar uma figura composta de vários corpos. E elas conseguem realizar a façanha: batem dois recordes no mesmo dia, com 20 e 24 mulheres no ar.

Em um esporte tradicionalmente masculino, essas mulheres se impõem com camisetas rosa-choque e e um vasto controle técnico. “Muitos homens do pedaço sentem-se ameaçados, e até tivemos que ouvir que ‘lugar de mulher é pilotando o fogão’. Mas nem o machismo nem as dificuldades nos fazem desistir. Treinamos duro por um ano para bater o recorde. Esse esporte é uma espécie de bruxaria que coloca o poder de cada mulher para ferver no mesmo caldeirão”, diz Flavia Annunziata Lopes, 35 anos, supervisora de marketing, de São Paulo. “É muita adrenalina em questão de segundos. Alta tensão seguida de relaxamento máximo”, explica Greike Pucci, 30 anos, paraquedista e instrutora de vários esportes radicais, de Campinas (SP).

Cabelo preso e equipamento detalhadamente checado – paraquedas principal e reserva, altímetro de pulso, dispositivo de abertura automática, que garante segurança, capacete, luvas e tênis –, elas não dispensam tops sensuais e outros caprichos de mulher. Enquanto espera o embarque, Paola Pirani, carioca, 32 anos, que largou o curso de direito para tornar-se instrutora de paraquedismo, aproveita o tempo para lixar as unhas. Algumas levam batom e sombra nos bolsinhos do macacão – a roupa é usada sobre calça e camiseta, pois lá em cima a temperatura é cerca de 15 graus mais baixa do que em terra.

A rotina é dura. Quando as técnicas – Ziara Abud, 41 anos, advogada, Juliana Sé, 31 anos, paraquedista profissional, e Marcia Farkouh, 45 anos, empresária, todas atletas tarimbadas – chamam para a briga, o grupo tem que estar a postos pontualmente e ouvir as instruções sem piscar. Antes de decolar, elas fazem longas simulações no chão, ensaiando a coreografia em detalhes – cada mulher deve saber exatamente o seu papel no espetáculo aéreo. “Se uma erra, quebra o salto de todas. Por isso, o companheirismo é tudo. Lá em cima, contam o autocontrole e o sangue-frio”, diz Tati Berger, 30 anos, advogada paranaense. Em terra, o mulherio é tagarela. Silêncio mesmo, só no avião, quando a ordem é concentrar. Aí elas fecham os olhos, rememoram cada movimento enquanto o coração bate forte. Depois, enfiam o capacete, dão o grito de guerra “Ok! Hei! Ho!” e se lançam. Em queda livre, a uma velocidade de 200 quilômetros por hora, ficam de bruços e, como se estivessem nadando no ar denso, se movimentam para formar o desenho no céu. Tudo acontece em menos de 30 segundos. Do chão, a visão do pouso é bela: os velames se abrem e o céu fica multicolorido, trazendo de volta as semideusas aladas, que tocam o solo com emoção contagiante.

Fonte: Revista Claudia

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